Novo ‘porto’ da China surge longe de qualquer mar

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A maior empresa de transportes marítimos da China investiu bilhões de dólares na compra de portos na Grécia e em outras nações marítimas em todo o mundo. Mas a localização do mais novo terminal da China Ocean Shipping Company fica a 2,5 mil quilômetros de qualquer oceano.

Conhecida como COSCO, a companhia tornou-se a proprietária de um pedaço de asfalto coberto de gelo, cortado ao meio por uma ferrovia ladeada por armazéns, no Cazaquistão, um país sem saída para o mar. O deserto árido perto da fronteira com a China está próximo do Polo Eurasiano da Inacessibilidade, o que significa que nenhum lugar na massa de terras composta por Europa e Ásia está mais distante do mar do que este.

Mas é aqui, onde enormes guindastes de fabricação chinesa carregam contêineres em trens em lugar de navios, que China e Cazaquistão veem uma nova fronteira no comércio mundial. O lugar é um polo fundamental do programa de infraestruturas de US$ 1 trilhão do presidente Xi Jinping, conhecido como “One Belt, One Road” (um Cinturão, uma rota), que pretende reviver os caminhos comerciais da antiga Rota da Seda entre a Ásia e a Europa.

A criação de um centro de transportes — a Porta do Khorgos, um “porto seco”, ou terminal sem água para levar a carga até trens e não em navios — em um dos lugares mais remotos do planeta exigiu um exercício extremamente dispendioso de engenharia social.

Foi preciso construir do zero uma nova cidade, chamada Nurkent — com blocos de apartamentos, uma escola, jardim de infância, e lojas para os trabalhadores da ferrovia, operadores dos guindastes, funcionários da alfândega e outros, imprescindíveis para o funcionamento do porto. Aqui, a moradia é gratuita. A cidade tem apenas cerca de 1,2 mil moradores, mas já há planos para expandi-la até mais de 100 mil.

Zhaslan Khamzin, o diretor executivo da companhia que opera o porto seco com a ajuda da DP World de Dubai, reconhece que o lugar parece inóspito, mas, descrevendo-o de maneira pouco plausível como um “oásis”, insistiu: “Este é o futuro”.

O maior país, o mais rico da parte da Ásia Central governado por Moscou, o Cazaquistão, tenta desde a independência, em 1991, manter boas relações com a Rússia, mas também ampliou os laços com a China. Foi o presidente do Cazaquistão, Nursultan A. Nazarbayev, o único governante do país desde que se separou da União Soviética quando esta estava implodindo, quem propôs pela primeira vez reativar as antigas rotas comerciais da Estrada da Seda.

Os nacionalistas cazaques queixam-se de que o seu país corre o risco de tornar-se um satélite de Pequim. “Quando os chineses chegam, segue-se o apocalipse”, diz um ditado cazaque. Os chineses que trabalham aqui afirmam que será quase impossível impedir a marcha da China. “Por navio ou por trem, não faz nenhuma diferença para nós, desde que as coisas continuem andando”, disse Fan Guoming, representante da companhia chinesa de transportes marítimos recém-nomeado em Khorgos.

Leva de 45 a 50 dias enviar produtos das fábricas chinesas até a Europa por mar, mas menos da metade deste tempo por trem, através da Ásia Central. Embora o custo seja dez vezes maior, ainda é muito mais barato do que o do transporte de avião.

Até o momento, a maior parte dos produtos fabricados na China que passam pelo Khorgos não se destina à Europa, mas permanece na Ásia Central, e é transportada por trem e por caminhão para mercados no Uzbequistão e nos países vizinhos, como o Irã. Mas são os mercados muito maiores da Europa que, a longo prazo, gerarão o tráfego necessário para tornar Khorgos mais do que apenas um eixo regional.

“Este lugar não é o fim do mundo”, disse Erik Aitbekov, vice-diretor de operações do porto seco. “É o centro, por causa da China”.

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