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Por Omar Ben Yedder
Durante um painel organizado pelo Africa Collective, nos bastidores do Fórum Econômico Mundial (WEF), investidores defenderam a ampliação dos esforços para promover a industrialização por meio da criação de Zonas Econômicas Especiais (ZEEs).
Denys Denya, vice-presidente executivo sênior do Banco Africano de Exportação e Importação (Afreximbank), destacou que as ZEEs — áreas dentro de um país com leis comerciais e empresariais diferenciadas — são ferramentas essenciais para superar desafios da industrialização. Segundo ele, esses espaços oferecem um ambiente controlado, onde é possível concentrar infraestrutura crítica para apoiar atividades industriais.
“A África carece de infraestrutura em diversas áreas, seja em estradas, portos ou energia”, afirmou Denya, enfatizando que as ZEEs oferecem uma solução integrada para essa deficiência.
Bhavin Vyas, diretor de sustentabilidade da ARISE Integrated Industrial Platforms, um dos principais investidores em ZEEs no continente, ressaltou que essas zonas permitem retenção de valor, criação de empregos e crescimento econômico sustentável na África.
“Um dos aspectos mais importantes da industrialização é a criação de empregos, o que significa manter mais valor dentro do continente, reduzir a pobreza e gerar benefícios econômicos ao longo de toda a cadeia de valor”, argumentou Vyas.
Ele explicou que a estratégia da ARISE é transformar matérias-primas africanas, tradicionalmente exportadas sem processamento e com baixo valor agregado, em produtos acabados dentro do próprio continente. O modelo design-construção-financiamento-operação da empresa assegura que haja agregação de valor em todas as etapas da cadeia produtiva, desde a extração até a exportação.
“Seja uma camiseta, cacau ou móveis de madeira, estamos criando marcas competitivas globalmente que colocam a África no mapa”, destacou Vyas.
Esse modelo também busca solucionar desafios globais, incluindo ineficiências na cadeia de suprimentos e preocupações climáticas. Segundo Vyas, ao localizar a produção em países como Benin, a empresa conseguiu reduzir significativamente a pegada de carbono dos produtos exportados.
“Uma camiseta costumava viajar 5.000 km antes de chegar ao mercado. Agora, ao processarmos localmente na África, conseguimos reduzir em 70% as emissões de carbono”, afirmou, ressaltando o duplo impacto da industrialização na redução da pobreza e no combate às mudanças climáticas.
“A África não pode ser a fábrica de baixo custo do mundo”
Amani Abou-Zeid, comissária da União Africana para Infraestrutura, Energia e Digitalização, alertou contra o risco de a África se tornar um polo de manufatura de baixo custo, conhecido como uma “fábrica de camisetas” para o mundo.
“A industrialização que precisamos não pode ser baseada em resíduos da China ou em salários baixos”, afirmou Abou-Zeid. “Ela deve ser baseada em agregação de valor, qualidade, padrões elevados e uso de tecnologias como inteligência artificial e robótica. Essa abordagem impulsionará o continente para o nível de desenvolvimento que aspiramos, garantindo o bem-estar da nossa população.”
A comissária reforçou que a África não deve ser vista como um mero polo industrial de mão de obra barata:
“Com nossa população, tecnologia e recursos energéticos, somos plenamente capazes de competir globalmente e diversificar cadeias de valor em escala mundial.”
Infraestrutura para agregar valor às matérias-primas africanas
O Corredor de Lobito, um grande projeto de infraestrutura apoiado pelos Estados Unidos e que envolve vários países da África Central, deve receber ZEEs para estimular a agregação de valor a minerais estratégicos.
Louis Watum Kabamba, ministro da Indústria e Desenvolvimento de Pequenas e Médias Empresas da República Democrática do Congo (RDC), afirmou que a iniciativa mudará a forma como a região utiliza seus recursos naturais.
“Percebemos, especialmente na RDC, que o modelo ‘do poço ao porto’, herdado do período colonial, não é mais viável”, explicou Kabamba.
O ministro ressaltou que o país está trabalhando para agregar valor aos recursos extraídos, em vez de exportá-los em estado bruto. Um dos planos é investir na produção local de componentes essenciais para baterias elétricas.
“Finalmente, podemos começar a fabricar essas baterias na África”, concluiu.
Fonte: Africa Business | Foto: Reprodução/Africa Business
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