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| Fabio Pucci | Muito do debate em torno das Zonas de Processamento de Exportação (ZPE) se concentra em uma questão essencial: gera resultados? Para responder, é preciso revisitar o passado — e olhar com atenção para os dados mais recentes.
Um pouco de história
A política de ZPE foi criada em 1988, com o objetivo de promover o desenvolvimento do país, reduzindo desigualdades regionais por meio do estímulo ao adensamento industrial voltado à exportação. Desde então, 30 ZPE foram autorizadas, mas a maioria foi cassada e grande parte das restantes não saiu do papel até recentemente. O único expoente inicial foi a ZPE do Ceará, inaugurada em 2013, a primeira do Brasil, lastreada em um grande projeto exportador de placas de aço. Depois disso, somente em 2022 viria a segunda ZPE, no Piauí, com a exportação de cera de carnaúba.
Muitos param nesse ponto e concluem que “não está dando resultado” ou que “não funciona”. Mas precisamos dividir essa análise em duas partes: o que já aconteceu desde 2013 e o que está acontecendo a partir de 2023.
O caso do Ceará
Há muito a destacar sobre os últimos 12 anos da ZPE do Ceará. Na última semana de agosto de 2025, foi anunciado o alcance dos 100 milhões de toneladas de cargas movimentadas desde 2013. São 3 milhões de toneladas anuais de placas de aço exportadas, agregando valor ao que antes saía do país apenas como minério de ferro. O resultado: mais empregos, mais renda e mais desenvolvimento para a região.
Além disso, em 2022 foi realizado um estudo com apoio da UNIDO para mensurar os primeiros impactos da política. O levantamento mostrou ganhos e perdas, desafios e oportunidades, mas já deixou claro um retrato de transformação no Ceará: enorme alteração da balança comercial, fortalecimento industrial e perspectivas positivas para expansão da política. Em seus passos iniciais, a ZPE já demonstra forte poder de impacto regional.
100 milhões de toneladas de cargas já foram movimentadas pelos portões da ZPE do Ceará desde 2013.
A virada recente
Se até 2022 apenas duas ZPE estavam em operação, hoje já são quatro — com a entrada de Mato Grosso e Minas Gerais — e deverão ser oito até 2026, com os avanços em Mato Grosso do Sul, Espírito Santo, Maranhão e Acre. Tirar novas ZPE do papel reverte um dos maiores entraves históricos da política — e representa um marco importante de desbloqueio institucional.
Por outro lado, muito tenho falado em eventos e conversas sobre a efetividade estratégica da política: apenas criar distritos empresariais incentivados não basta. Tampouco, criá-los e quase que aguardar que as empresas venham naturalmente. O impacto real (com difusão tecnológica, adensamento industrial, desenvolvimento econômico e social e redução de desigualdades regionais) só virá por meio dos projetos empresariais sendo populados em número relevante dentro dessas ZPE, pois são eles que geram empregos, renda, valor agregado, investimentos e exportações.
Essa perspectiva tem mudado. Nas reuniões do Conselho Nacional das Zonas de Processamento de Exportação (CZPE), realizadas nos últimos dois anos, 14 novos projetos empresariais foram autorizados em seis diferentes ZPE. Em comum, apresentam orientação para exportação e atributos relevantes de inovação tecnológica, sustentabilidade, agregação de valor a cadeias locais e impacto econômico.
No conjunto, representam R$ 53 bilhões em investimentos greenfield, R$ 31 bilhões em novas receitas anuais (87% para exportação) e mais de 5 mil empregos diretos na fase operacional. Apenas na fase de implementação, deverão superar 30 mil novos empregos diretos e indiretos. E esses números ainda devem crescer com as duas próximas reuniões do CZPE previstas para 2025.
R$ 53 bilhões em novos investimentos em ZPE foram aprovados nos últimos 2 anos. São empresas que movimentarão as economias dos estados do Ceará, Piauí, Espírito Santo, Maranhão, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
Novo cenário institucional e resultados já visíveis
Algumas mudanças normativas em 2021 aumentaram a atratividade do regime e a atuação recente do CZPE estabeleceu um novo padrão de rigor e de efetividade. O cuidadoso escrutínio técnico das propostas e a avaliação criteriosa feita pelo CZPE têm priorizado projetos consistentes, alinhados aos objetivos da política e com real potencial de execução.
Outro ponto essencial: não se trata agora de aprovações que ficam no papel. Os projetos já começaram a empregar e a executar as primeiras obras. No Ceará e no Piauí, há movimentação de terraplanagem e sondagens. Na nova ZPE de Bataguassu (MS), as obras avançam, enquanto outros projetos aguardam apenas licenças finais para iniciar a execução. Projetos de milhões e bilhões exigem tempo para plena maturação. A boa notícia é que muitos já estão em execução — e outros estão prestes a sair do papel.
Concluir, então, que ZPE é uma política de 37 anos que não gera resultados seria, no mínimo, ignorar a evidência recente e sua fase de maturação atual. É fato que o passado mais distante caminhou com certas limitações de efetividade, mas os dados do Ceará e os avanços dos últimos anos mostram que o potencial transformador da política é grande e que caminha de forma assertiva.
Gera resultados? O copo está claramente meio cheio — e enchendo rápido.
Fabio Pucci | Secretário-Executivo do Conselho Nacional das Zonas de Processamento de Exportação | Presidente do Conselho Fiscal do Centro de Bionegócios da Amazônia | Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços
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