Nova Rota Brasil-China via Pecém: uma resposta estratégica à geofragmentação do comércio global

Nova Rota Brasil-China via Pecém: uma resposta estratégica à geofragmentação do comércio global

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E se o futuro da inserção internacional do Brasil começar por uma nova rota marítima entre o Ceará e a China?

Essa não é uma hipótese teórica, mas uma realidade anunciada nesta semana: o Porto do Pecém inaugurou uma conexão direta com o mercado chinês, capaz de reduzir em 50% o tempo de transporte entre os dois países.

“(…) Com essa nova proposta, o tempo de deslocamento, que atualmente é de cerca de 60 dias, passará para apenas 30 dias, tornando o Ceará ainda mais competitivo no cenário do comércio exterior”, destaca o presidente do Complexo do Pecém, Max Quintino.

Num momento em que o comércio global está sendo redesenhado, essa notícia representa muito mais do que uma vitória logística. Ela sinaliza que o Brasil, especialmente o Nordeste, pode ocupar um papel estratégico num cenário marcado pela fragmentação das cadeias produtivas e crescente rivalidade geoeconômica.

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Um novo mundo, com novas rotas

Nos últimos anos, o mundo vive um processo que economistas chamam de “geofragmentação” — a reorganização das cadeias globais de valor em blocos mais regionalizados e politicamente alinhados. Tensões entre EUA e China, tarifas comerciais, conflitos como a guerra da Ucrânia e ataques a navios no Mar Vermelho têm levado empresas a repensar seus elos logísticos, buscando reduzir riscos e diversificar fornecedores.

Em seu relatório de março, o Banco Central do Brasil destacou esse ponto: a incerteza gerada pelas políticas comerciais está pressionando a inflação global, desorganizando fluxos logísticos e exigindo alternativas mais seguras e resilientes para o comércio internacional.

É nesse contexto que a nova rota do Pecém se destaca: ela oferece à China — e à Ásia em geral — um corredor direto para acessar alimentos, minérios, combustíveis e produtos manufaturados brasileiros com mais agilidade, previsibilidade e segurança.

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Foto CIPP – Porto do Pecém

Pecém como plataforma estratégica de exportação

A posição do Porto do Pecém, aliado à Zona de Processamento de Exportação (ZPE Ceará), permite algo que poucos lugares no Brasil conseguem oferecer: um ambiente industrial e aduaneiro voltado para a exportação, com incentivos fiscais, infraestrutura de ponta e conexão global.

Com a nova rota:

▪️O Pecém se torna mais atrativo para empresas asiáticas que queiram se aproximar da América Latina;

▪️Indústrias locais podem explorar novos mercados na Ásia, especialmente no setor de alimentos, frutas, castanha de caju, rochas ornamentais e produtos de base mineral;

▪️A logística reduzida torna produtos brasileiros mais competitivos no mercado chinês, um diferencial crucial num cenário de custos pressionados.

E mais: essa conexão pode funcionar como um vetor de neoindustrialização, com potencial de atrair novos investimentos em transformação local de matérias-primas para exportação com maior valor agregado.

Para refletir

Em um mundo cada vez mais fragmentado, a rota mais curta pode ser também a mais estratégica. O que outras regiões do Brasil — e empresas — podem aprender com o que está acontecendo no Ceará?

Por Fábio Feijó, Presidente da ZPE Ceará

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