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A economia da região vive um momento de transformação, impulsionada por megaprojetos, políticas de fomento e investimento estrangeiro. As obras e inaugurações anunciadas neste ano variam de data centers a ferrovias, de parcerias internacionais a soberania nacional nos mais diversos ramos da indústria. Para os próximos anos, mais de 189 projetos tiveram o financiamento anunciado por uma união de bancos públicos federais, anunciando que o crescimento não deve parar por aqui. Confira 5 acontecimentos de 2025 que indicam um futuro melhor para a região.
Construção de data center do TikTok no Ceará
O maior data center do Brasil e o primeiro do TikTok na América Latina foi anunciado dia 3 de dezembro. O empreendimento visa a exportação de serviços e será instalado na Zona de Processamento para Exportação (ZPE) do Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP), no Ceará, com previsão de entrada em operação em 2027. O investimento total estimado é de R$ 200 bilhões, sendo que R$ 108 bilhões serão alocados em equipamentos de alta tecnologia até 2035, segundo o próprio TikTok.
Do ponto de vista econômico e social, o projeto tem potencial para gerar cerca de R$ 16 bilhões em exportações por ano, segundo a Pátria Investimentos, gestora da construção e operação do data center . A expectativa é criar quatro mil postos de trabalho diretos na primeira fase, com uma média salarial projetada de R$ 5 mil, conforme apontado pelo governador do Ceará, Elmano de Freitas (PT).
Em contrapartida a instalação do projeto no Complexo do Pecém, as empresas responsáveis são obrigadas a investir R$ 15 milhões anuais no desenvolvimento das comunidades que vivem na região. De acordo com o Governador este dinheiro terá como prioridade o atendimento das demandas dos povos indígenas Anacé e Tapeba.
Outra boa nova é que a sustentabilidade deve ser um pilar central do empreendimento, que promete ser alimentado por energia 100% renovável. Demandando a construção de novos parques eólicos e solares, o que por sua vez, amplia a oferta de energia limpa do país. Além disso, a operação incorporará tecnologia de resfriamento com circuito fechado de reuso de água, reforçando o compromisso com práticas ambientais responsáveis.
Construção da Ferrovia Transnordestina
A Ferrovia Transnordestina é uma das obras de infraestrutura mais estratégicas e complexas do país. Iniciada em 2006, a ferrovia visa conectar o sertão nordestino aos Portos de Pecém (CE) e Suape (PE), otimizando o escoamento das produções agropecuária e mineral. Apesar de um histórico de mais de uma década de atrasos e interrupções, o projeto demonstrou um fôlego significativo em 2025, com importantes avanços no investimento e na execução.
Junho foi um mês movimentado para o empreendimento. O presidente Lula assinou a ordem de serviço do lote 8 — trecho de 46km entre os municípios de Baturité, Quixadá, Itapiúna e Capistrano no Ceará — que deve receber do Fundo de Desenvolvimento do Nordeste (FDNE) um investimento de R$ 1 bilhão. O Congresso Nacional aprovou a liberação de um crédito adicional de R$ 816 milhões, valor proveniente da entrada do FDNE como acionista da concessionária Transnordestina Logística S.A. (TLSA). E por fim, a própria TLSA anunciou estar estudando a construção de portos secos ao longo da ferrovia, prevendo ao menos 5 terminais de carga e descarga.
Em julho, as ações focaram na desburocratização e liberação de recursos. A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) determinou a desapropriação de áreas no Piauí, consideradas de “utilidade pública”, para viabilizar o avanço das obras, e a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) autorizou a liberação de mais R$ 600 milhões do FDNE. O principal anúncio foi a retomada do trecho pernambucano do projeto, de mais de 500 km, que havia sido descartado em 2022. Este “braço” estratégico agora conta com um orçamento inicial de R$ 450 milhões.
Neste mesmo período, foi anunciada a liberação de mais R$ 1,4 bilhão para obras da Transnordestina, com a ambiciosa meta de inaugurá-la antes do fim do atual mandato. O ano de 2025 deveria ter marcado também o início da operação de transporte de carga entre os municípios de São Miguel do Fidalgo (PI) e Acopiara (CE), já que seu funcionamento em regime de comissionamento havia sido aprovado pela ANTT em 09 de outubro, mas está até o momento embargado pelo Ibama, por “falta de documentação”.
A ferrovia será um motor de transformação econômica no Nordeste, com impactos em logística, empregos e desenvolvimento industrial. Atualmente, a obra emprega mais de quatro mil trabalhadores e com a retomada do trecho pernambucano, deve gerar cerca de seis mil empregos diretos e indiretos, entre a elaboração e execução do projeto. Do ponto de vista operacional, a área em que a ANTT já autorizou o uso da Transnordestina tem uma capacidade inicial estimada de movimentar 1 milhão de toneladas por ano, incluindo grãos, algodão e minérios. Além disso, a ferrovia conecta diretamente os portos ao polo gesseiro da região, responsável por 95% da produção nacional de gesso e derivados, integrando uma cadeia produtiva que gera mais de 14 mil empregos indiretos.
Retomada da Fafen
A Petrobras está marcando seu retorno ao setor de fertilizantes do Nordeste com a retomada das operações nas Fábricas de Fertilizantes Nitrogenados (FAFEN) em Laranjeiras (SE) e Camaçari (BA). Após a conclusão da licitação de Operação e Manutenção (O&M), a estatal assinou contrato com a empresa Engeman para os serviços necessários nas duas unidades. O reinício da produção está previsto para janeiro de 2026, conforme informado pelo diretor-executivo William França, da Petrobras.
O anúncio oficial da retomada foi celebrado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que destacou a importância do projeto para a soberania nacional na produção de fertilizantes. Em termos de capacidade, a FAFEN-SE (Laranjeiras) tem potencial para produzir 1,8 mil toneladas de ureia por dia, além de amônia e ureia perolada e granulada. Já a FAFEN-BA (Camaçari) pode produzir 1,3 mil toneladas de ureia por dia, além de amônia, ureia perolada e ARLA-32. A concessão da unidade baiana inclui ainda a operação dos Terminais Marítimos de Amônia e Ureia no Porto de Aratu.
A previsão era que 1400 empregos, entre diretos e indiretos, fossem gerados em Sergipe e 750 empregos diretos na Bahia, com prioridade para a mão de obra local. De acordo com o Sindicato dos Petroleiros de Sergipe grande parte dessas 1400 vagas já havia sido preenchida no início de novembro.
A Chamada Nordeste da Nova Indústria Brasil (NIB) anunciou a liberação recorde de R$ 113 bilhões para 189 projetos de fomento
A Chamada Nordeste da Nova Indústria Brasil (NIB), lançada em maio, alcançou um marco histórico no fomento regional, consolidando-se como a maior chamada de projetos para a indústria do Nordeste. A iniciativa resultou na liberação recorde de R$ 113 bilhões para apoiar 189 projetos selecionados, um valor que se mostrou quase 11 vezes superior à estimativa inicial de R$ 10 bilhões.
Este resultado extraordinário é fruto de uma ação conjunta e inédita de fomento que, pela primeira vez, reuniu diversas instituições federais em uma poderosa coalizão liderada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Participaram desta parceria o Banco do Brasil (BB), a Caixa Econômica Federal (Caixa), o Banco do Nordeste (BNB) e a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), contando ainda com o apoio técnico da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) e do Consórcio Nordeste.
A Chamada recebeu um total de 245 propostas, somando R$ 127 bilhões, todas com foco em projetos estruturantes que visam a inovação, a reindustrialização e o desenvolvimento sustentável da região. Os projetos selecionados demonstram um alto grau de participação de empresas de menor porte e cooperação científica: 74% das propostas vêm de micro, pequenas e médias empresas (MPMEs), 32% são projetos em consórcio com outras empresas e 77% envolvem a cooperação com instituições de ciência e tecnologia.
A divisão destas propostas entre os setores estratégicos se dá da seguinte forma: 59 propostas de Transição Energética com foco em armazenamento, 44 de Hidrogênio Verde, 40 de Data Center Verde, 39 de Bioeconomia com foco em fármacos e por último 37 do Setor Automotivo, incluindo máquinas agrícolas.
Os projetos selecionados foram anunciados no dia 01 de dezembro e a próxima etapa é a estruturação dos Planos de Suporte Conjunto (PSC) para cada proposta aprovada. O objetivo do PSC é atuar como um guia estratégico para as empresas, ajudando-as a acessar as linhas e instituições de fomento mais adequadas para cada iniciativa. A previsão é que todos os PSCs estejam concluídos até o final do mês.
PIB supera média nacional
A economia do Nordeste mantém sua trajetória de crescimento, superando pela segunda vez consecutiva a média nacional. Em 2024, o PIB nordestino avançou 3,8% contra 3,5% do Brasil, e para 2025 as projeções apontam 2,3% ante 2,2% nacional. O protagonismo regional fica evidente no ranking nacional: a Paraíba liderou com 6,6% de crescimento, seguida pelo Rio Grande do Norte com 6,1%.
A superação ocorre em três grandes setores, com serviços crescendo 4,0% contra 3,6% do Brasil; indústria avançando 3,4% ante 3,3% nacional; e até na agropecuária o impacto negativo foi menor. Em 2025, o Nordeste deve superar o Sul e tornar-se o segundo maior mercado consumidor do país, movimentando R$ 1,515 trilhão, 18,6% do mercado nacional.
Por trás dessa transformação estão avanços sociais expressivos. Entre 2022 e 2024, a renda per capita cresceu 20,2% e a pobreza recuou 37,4%. O mercado de trabalho criou 341 mil vagas formais nos últimos 12 meses, com a taxa de desemprego caindo de 11,2% para 9,4%, o menor patamar desde 2014.
Fonte: Investindo por aí | Foto: Ricardo Stuckert
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