A China encontrou, Israel encontrou… e o Brasil, ainda não

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Uma viagem recente à China deixou mais claro para mim quanto o país mudou nos últimos anos. Os ecossistemas de inovação chineses têm um componente forte de curiosidade, abertura ao novo e ao mundo. Compartilha essas características com outros dos mais famosos polos globais, como Austin (onde ocorre o SXSW, maior festival de inovação do mundo), Berlim ou o Vale do Silício. Mas um fator diferencia a China desses lugares em países ricos, e a aproxima de Israel.

Cada região tem características únicas. Em Israel, a inovação aconteceu por necessidade – mais precisamente, pela escassez de recursos e pela situação de conflito prolongado. Por causa da tensão e das guerras abertas com países vizinhos, israelenses precisaram se unir e colaborar na construção desse novo ecossistema. Um intenso fluxo de capital e de recursos humanos de alta qualidade completaram a receita. Devido ao tamanho restrito do seu território, os israelenses passaram a exportar, e, posteriormente pensar em como seus serviços poderiam atingir escala. 

No caso da China, a inovação também ocorreu por necessidade. Como dotar de dinamismo econômico uma nação com população gigante, muita pobreza e escassez de recursos naturais? A resposta foi copiar (primeiro) e melhorar (depois) o que já havia dado certo no mundo, num receituário já testado por Japão e Coreia do Sul. A abertura na China foi um pouco diferente. Podemos compará-la com o Brasil, pois aconteceu mais ou menos na mesma época, durante a década de 1970. A China resolveu se abrir para o mundo e, Shenzhen, uma das cidades que visitei por lá em abril de 2019, transformou-se na primeira zona econômica especial do país, como se fosse o piloto da abertura de livre mercado dentro do regime comunista.

Países com grande mercado interno sofrem a tentação de se fechar, como aconteceu com o Brasil. As políticas desenvolvimentistas implementadas por aqui a partir da década de 1970 ainda mostram efeitos na cultura empreendedora nacional – por exemplo, quando analisamos o posicionamento de algumas startups que miram apenas nos clientes locais. As políticas desenvolvimentistas brasileiras nasceram de uma certa visão de país, na cabeça de governantes, empresários e economistas. Mas não decorreram de necessidades fundamentais e urgentes do país.

Na China, apesar do mercado interno grande, aconteceu um movimento diferente. Em vez de priorizar o mercado interno, o país começou a se abrir, transformando-se no berço da manufatura, como se fosse o chão de fábrica do mundo. A China precisava criar muitos empregos muito rapidamente. O país passou a desenvolver cópias de produtos reconhecidos e transformou o Made in China em uma marca – numa primeira fase, sinônimo de produto barato. O ocidente pensava e a China fabricava. Nesse processo, o desenvolvimento da cidade de Shenzhen foi considerado um sucesso e serviu de modelo para construção de outras supercidades, como Guangzhou (Cantão).

A região que contempla Shenzhen, Hong Kong e Guangzhou é conhecida como a Área da Baía Maior (Greater Bay Area), comparada ao Vale do Silício, berço de grandes inovações tecnológicas, e que abriga as maiores empresas de inteligência artificial da China. O governo começou a multiplicar essas zonas econômicas especiais e atrair talentos para esses lugares. Formou-se nessas áreas uma forte base de capital intelectual.

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