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Nos últimos dias, o Diário do Nordeste, graças à competência do seu time de repórteres de economia, tem divulgado importantes informações acerca de investimentos que a iniciativa privada pretende fazer no Complexo Industrial e Portuário do Pecém, localizadamente na sua Zona de Processamento para Exportação, a ZPE do Ceará, que é a única em efetivo funcionamento no país.
A mais recente dessas extraordinárias notícias, muito bem apurada pelo repórter Luciano Rodrigues, deu conta de que a Casa dos Ventos – maior empresa desenvolvedora de projetos de geração de energias renováveis do país – investirá na construção de três cabos subterrâneos que interligarão os cabos submarinos ancorados na Praia do Futuro, em Fortaleza, ao seu futuro Data Center no Pecém.
Confirmada pela própria Casa dos Ventos, a alvissareira boa nova reacende a certeza de que os graves impasses que retardam o projeto de implantação do seu Data Center – o principal dos quais é a carência de Linhas de Transmissão de Energia (LTs) – seguem sendo tratados pela cúpula do governo da União. O próprio presidente Lula chamou para si a responsabilidade e o compromisso de, por meio do seu ministério de Minas e Energia, acelerar o processo de leilão das novas LTs.
A questão é a seguinte: o Ceará, o Nordeste e a própria Casa dos Ventos dispõem de energia renovável (eólica e solar) suficiente para abastecer o gigantesco Data Center e, ainda, os projetos de produção de hidrogênio verde, que estão atrasados por outros motivos, também. O problema – e põe problema nisso – é a inexistência de LTs capazes de receber e transportar essa energia para o Pecém e, ao mesmo tempo, transferi-la de lá para o Sistema Elétrico Nacional, que é unificado.
No fim do último mês de abril, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) negou à Fortescue e à Casa dos Ventos acesso à rede nacional, sob o argumento de que há restrições estruturais sistêmicas e riscos de sobrecarga na rede de transmissão. Isto é revelador das falhas de planejamento da estrutura de comando da política energética do país, que sofre a interferência da política no preenchimento dos cargos de direção, os quais deveriam ser ocupados, exclusivamente, por técnicos de carreira das próprias instituições.
Pretendem a Casa dos Ventos e sua parceira chinesa, a ByteDance, dona do TikTok, apressar a implantação do projeto do DataCenter, que é um equipamento consumidor intensivo de energia elétrica. Segundo a Reuters, uma das maiores agências de notícias do mundo e a primeira a divulgar a informação sobre a associação da empresa brasileira com a plataforma chinesa, esse DataCenter consumirá, em sua primeira etapa, 300 MW, podendo alcançar 900 MW na segunda etapa (o consumo total do estado do Ceará é de 1.500 MW ou 1,5 GW).
O governo do Ceará e a Federação das Indústrias (Fiec) estão juntos no esforço de pressionar o governo federal a acelerar as medidas que viabilizem a instalação das LTs, cuja construção costuma demorar de 3 a 4 anos, dependendo de sua extensão e complexidade. Pelo organograma da Casa dos Ventos, a obra física de construção do seu DataCenter na ZPE do Pecém deverá começar até o fim deste ano, para estar concluída e em operação em 2027.
Conhecendo o histórico das obras públicas no Brasil, muito dificilmente as LTs necessárias aos projetos do H2V e do DataCenter estarão prontas no fim de 2027, mesmo que estas venham a ser executadas pela própria Casa dos Ventos, por meio de uma Parceria Público Privada. E é exatamente a possibilidade de constituição dessa PPP que causa novos imbróglios. Se ela vier a acontecer, terá sido a primeira vez que organismos públicos do sistema elétrico transferem para a iniciativa privada essa tarefa.
Mas já é possível antecipar que, se for mesmo a Casa dos Ventos a responsável pela construção dessa LT, o seu custo e o tempo de execução serão, no mínimo, 30% mais barato e 50% mais curto. O serviço público – porque é, exatamente, público – não sabe fazer mais com menos. Se alguém duvida, basta consultar a crônica das licitações promovidas nos últimos 20 anos pelas grandes estatais e, também, por organismos regionais de desenvolvimento, como a Codevasf e o Dnocs.
Fonte: Diário do Nordeste | Foto: José Leomar / SVM
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