Tempo de leitura: 5 minutos
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), vai aos EUA no fim desta semana promover o programa nacional de data centers, programa de subsídios para atração de investimentos do setor no Brasil.
As agendas envolvem reuniões com executivos da Google e da Amazon e da fabricante de processadores e chips, NVDIA, que dominou o mercado voltado aos sistemas de inteligência artificial.
Em evento do Banco Safra, em São Paulo, afirmou ser inexplicável o Brasil ser deficitário na balança comercial de serviços de tecnologia da informação, dada as vantagens competitivas para instalação dos centros de processamento de dados no país.
Segundo o ministro, essas vantagens são a infraestrutura nacional de dados e a oferta de energia limpa, gerada no país.
“Somos deficitários na balança [comercial] de serviços, contratamos 60% da nossa [demanda por serviços de] TI fora do país, o que significa não apenas remessa de dólares para fora, mas subinvestimento no Brasil”.
A proposta já foi discutida com o presidente Lula (PT) e com a Casa Civil. Haddad não mencionou na entrevista, mas o governo cogita editar uma medida provisória com o pacote de desoneração de investimentos. O regime especial está sendo batizado de Redata, como mostrou a eixos na semana passada.
“Tudo dando certo, o Congresso ajudando, podemos ter uma política de atração de muitos investimentos”, disse.
As metas são a retomada dos investimentos em energia limpa e substituir serviços tecnológicos importados e crescimento da exportação. “Não vamos ter capacidade de consumir tudo”.
Haddad defendeu uma “vinculação” entre as economias verde e digital. “Se uma parte desses serviços vai ficar disponível para os setores domésticos, poderemos ter a disponibilidade [oferta de capacidade de processamento] que poucos países vão ter”.
O programa prevê uma cota de destinação de capacidade para demanda interna, como contrapartida aos benefícios, o que visa a beneficiar também laboratórios nacionais. “O Brasil está entre os maiores produtores de conhecimento e não produz mais por falta de infraestrutura”.
Em conversa com Joaquim Levy, diretor do Safra e ex-ministro da Fazenda de Dilma Rousseff (PT), Fernando Haddad defendeu que o marco legal para data centers fará parte de uma agenda de reformas para combater o subinvestimento e tornar o crescimento do PIB menos dependente das contas públicas.
Levy é o atual diretor de Estratégia Econômica e Relações com Mercados do Banco Safra e foi colega de Haddad na equipe econômica dos primeiros governos Lula.
“Não há solução para a economia brasileira que não passe por um crescimento sustentável (…) menos impulso fiscal em troca de mais investimento e consumos privados. Esse é o caminho que está dado para a economia brasileira hoje e espero que continue assim”, disse.
Na apuração do Produto Interno Bruto (PIB) de 2024, o consumo das famílias cresceu 4,8%, com aumento do mercado de trabalho, maior oferta de crédito e os programas de transferência de renda. Já a despesa via do consumo do governo teve um aumento de 1,9% no mesmo período.
O PIB cresceu 3,4% em 2024, positivamente influenciado pelo desempenho da indústria (+3,3%) e serviços (+3,7%), enquanto a agropecuária recuou 3,2% devido a condições climáticas adversas.
Déficit de processamento de dados é inexplicável
O ministro da Fazenda afirmou que não há razões para o Brasil ser majoritariamente deficitário em em serviços de TI. “Brasil é o país que detém as melhores vantagens competitivas em relação a data centers, sobretudo no que diz respeito ao cabeamento existente”, disse.
Além das melhores condições, defendeu Haddad, para geração de energia eólica e solar. “Podemos trazer para cá investimentos em energia limpa, fazer os data center do lado da energia limpa, com custos de transmissão baixíssimos e acredito que o lançamento desta política vai fazer esse investimento melhorar muito”.
Gargalos na transmissão
Semana passada, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) negou um recurso da Casa dos Ventos referente à conexão de projetos de amônia verde e data centers no Ceará. O parecer seguiu as recomendações do ONS, em razão de risco de sobrecarga nas redes de transmissão e risco de colapso de tensão.
A Casa dos Ventos tenta viabilizar os projetos Data Center Pecém II e Iracema Amônia Verde, que juntos demandam 1.776 MW. Os projetos são para dezembro de 2027 e 2028, respectivamente. As informações são da MegaWhat.
O gargalo dos data centers já prejudicava a efetividade dos subsídios para o hidrogênio.
O PHBC libera créditos entre 2028 e 2032, mas não há capacidade disponível no SIN para os projetos que querem se habilitar na primeira metade desse prazo. Além disso, o Rehidro vai até 2030, desonerando impostos federais existentes e descasado com a reforma tributária (extinção do PIS/Cofins em 2027).
Os data center são parte de um conjunto de reformas prioritárias para a Fazenda em 2025, disse Haddad, mencionando ainda os novos marcos de parcerias público privadas (PPPs) e concessões, em discussão no Congresso Nacional. O tema está com Arnaldo Jardim (Cidadania/SP), na Câmara.
“O Brasil vem subinvestindo há muito tempo e temos um conjunto de projetos, para dizer o mínimo, com boas taxas de retorno e que podem sair da gaveta se acertamos uma série de políticas que estão sendo endereçadas pelo governo”.
Fonte: Eixos | Foto: MF
Os comentários foram encerrados, mas trackbacks e pingbacks estão abertos.